domingo, 18 de agosto de 2013

Por que o ornitorrinco é tão... bizarro?




Você conhece o ornitorrinco, certo? Com certeza já usou ele para exemplificar o quão exótica é a Austrália. Afinal, um mamífero peludo, com cauda de castor, bico de pato e esporões venenosos não é algo que se vê todo dia. Mais estranho ainda: eles botam ovos. OVOS. São um dos DOIS únicos mamíferos ovíparos do planeta, e ninguém conhece o outro (as equidnas, que também vivem na misteriosa Austrália e na Nova Guiné).

lhes apresento uma equidna. Não, não é um porco espinho

Você já deve ter ouvido as mais diversas “explicações” de por que esses animaizinhos são tão esquisitos, algumas de brincadeira, outras motivadas por ignorância mesmo. Já ouvi gente achando que eles eram o cruzamento de várias espécies. Esses devem ter usado as páginas do livro de Biologia pra enrolar um baseado. Tem a clássica “essa é uma prova da existência de deus”. Não vou nem comentar. E já ouvi - juro pelas barbas de Dumbledore - gente defendendo ferrenhamente (e alcoolicamente) que os ornitorrincos eram frutos de experimentos conduzidos por cientistas nazistas (?) loucos. Acho que já sabemos por que eles perderam a guerra...

A explicação da Paleontologia não é tão viajante quanto essas. AVISO: não sou biólogo, portanto minha explicação será curta, rasa e sucinta. Não tome-a como material científico, apenas como curiosidade.

achou nosso antepassado mamífero? é aquele ali no canto, sofrendo bullying de um ancestral das aves

Vamos começar voltando um pouquinho no tempo. Não se sabe com precisão quando surgiram os primeiros mamíferos, mas é seguro assumir uma data por volta de meados do Período Jurássico, na Era Mesozóica. Ou seja, estamos falando de uns 180 milhões de anos atrás. Pouca coisa. Nessa época, os dinossauros ainda dominavam o planeta, e os mamíferos existentes eram pequenos e medrosos, parecidos com pequenos musaranhos.

Musaranho de Dentes Brancos (Crocidura russula), uma espécie de musaranho moderno

Ainda nos primeiros “poucos” milhões de anos subsequentes, nossos distantes (põe distantes nisso) ancestrais já se dividiam em algumas linhagens ou grupos distintos. Apenas duas destas linhagens primordiais sobreviveram e possuem descendentes hoje: os Borealosfenídeos (bo.re.al = do norte, setentrional) e os Australosfenídeos (aus.tral = do sul, meridional).

Os grandes lagartos foram extintos ao final do Mezozóico e – ao longo de uma complexa história de migrações, extinções, derivas continentais e balsas de vegetação – os mamíferos se espalharam pelo globo e se tornaram a classe dominante do pedaço. Os borealosfenídeos – divididos em placentários (nós estamos aqui) e marsupiais (aqueles com bolsa, tipo o Canguru) – se diversificaram enormemente ao longo desses milhões de anos, formando quase todas as espécies de mamíferos que você conhece hoje. Quase todas.

Mas pera, e os australosfenídeos? Eles foram sendo empurrados para escanteio pelos seus primos borealosfenídeos, até chegarem ao ponto de só sobrarem uma meia dúzia deles no cantinho da Oceania. As equidnas sobrevivem em quatro espécies diferentes, de dois gêneros distintos (Zaglossus bruijni, Zaglossus attenboroughi, Zaglossus bartoni e Tachyglossus aculeatus). O ornitorrinco (Ornithorhynchus anatinus), por sua vez, é o que se chama de espécie monotípica: sem subespécies ou variantes conhecidas. Ou seja, ele é realmente, REALMENTE único.

ó o bebezinho

Daqui para frente, sempre que você olhar para um ornitorrinco ou equidna (em que situação eu não consigo imaginar), tenha em mente: nada menos que 180 milhões de anos de evolução te separam dele. E sempre que você se sentir solitário, lembre-se: você nunca será tão sozinho e diferente quanto o pobre Ornithorhynchus anatinus.

mas não precisa ficar triste, Perry. O Phineas e o Ferb te amam


IMPORTANTE: Assistam a esse vídeo aqui do Pirulla, em que ele explica magistralmente a evolução e dispersão dos mamíferos pela Terra. Na verdade, assistam a TODOS os vídeos dele, o cara é foda.

1 comentários:

Desapeguei disse...

Todo esse texto é copia da fala Pirula no video Evoluçao e Dispersao dos mamiferos, no youtube.

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