terça-feira, 13 de agosto de 2013

Como criar um personagem de RPG



Se você é um novato no mundo do Roleplaying, uma das primeiras coisas que você deve aprender (logo após o que é RPG e como se comportar durante o jogo) é a criar seu personagem. Fique comigo; daqui a pouco vamos descobrir como fazer isso passo a passo. Agora, se você é mais experiente e já jogou algumas vezes, deve estar pensando em largar este texto agora mesmo. Afinal, “Isso é o básico do básico! Eu já criei um monte de personagens de RPG!” Hmm, será mesmo?

Talvez sim. Mas vamos começar fazendo uma pequena distinção aqui, que deveria ficar bem clara na cabeça de todos os jogadores. Uma ficha não é a mesma coisa que um personagem. A ficha é apenas um tokken, uma representação para fins de jogo. É composta principalmente por um amontoado de números e informações, com um espaço (pequeno demais) para que você escreva seu background (a história prévia do seu personagem). Alguns sistemas mais modernos ou mais interpretativos, como O Um Anel ou Rastro de Cthulhu, incorporam na ficha elementos narrativos do seu personagem, porém ainda vagos demais para uma interpretação completa.

Sendo apenas uma representação, a ficha deveria sempre ser criada após o personagem. Portanto ponha os dados de lado por um momento e vamos fazer um pequeno exercício criativo.

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Conceito

Esta é a pedra fundamental, o alicerce ao redor do qual todo o resto será construído. Neste momento, talvez você já tenha em mente a futura classe ou profissão do seu personagem. Deixe-a de lado por um momento e se atenha ao que há de mais básico, de mais abstrato. Seu personagem é charmoso e malandro, porém carismático e com um bom coração? Ou é inteligente, disciplinado e leal aos amigos? Ou talvez sábio e enérgico, capaz de se sacrificar pelo bem da missão?

A dica aqui é: Você é capaz de descrever seu personagem sem fazer alusão ao seu nome, aparência ou ocupação? Se a resposta for positiva, parabéns, pode seguir adiante. Se for negativa, volte e tente de novo. Experimente fazer o mesmo exercício com personagens de ficção que você conhece, para praticar.

Agora você já pode pegar de volta a classe ou profissão que havia escolhido e mesclá-la ao conceito. Que tal agora? Um contrabandista galáctico charmoso e malandro, porém carismático e com um bom coração? Uma bruxinha inteligente, disciplinada e leal aos amigos? Ou um velho mago sábio e enérgico, capaz de se sacrificar pelo bem da missão?


Motivação

Conforme lembrado pelo nosso querido hobbit Bilbo Bolseiro, aventuras são coisas desagradáveis e desconfortáveis, e fazem com que você se atrase para o jantar. Para não mencionar todos os perigos e riscos de vida envolvidos. Sendo assim, nada mais coerente que seu personagem deva possuir um ótimo motivo para se envolver neste tipo de loucura.

Seu personagem possui algum problema ou inquietação, e apenas se aventurando ele será capaz de solucioná-lo. O ideal é que a motivação exista em dois níveis: um mais concreto (como o desejo de um jovem guerreiro de se tornar forte o suficiente para entrar para a Guarda Real) e outro mais psicológico (a necessidade do tal jovem guerreiro de provar seu valor para seu pai, que fez ele próprio parte da Guarda).

Evite motivações bobas e simples como “ficar mais forte” ou “acumular tesouros”. Você pode achar que está sendo esperto por poupar o trabalho, mas só está criando um personagem raso, unidimensional e descartável.


Aparência

Estamos mais que acostumados a alterar nossa própria aparência. Escolha de roupas, cortes de cabelo, uso de acessórios; tudo isso tem a intenção, consciente ou não, de expressar para o mundo o que somos, ou acreditamos ser. Faça a mesma coisa com seu personagem. Volte ao conceito que você já criou para ele e tente representá-lo em traços físicos.

O segredo aqui é a economia. Se você for um desenhista, pode tentar da vida ao seu personagem nos mínimos detalhes. Caso contrário, é melhor ater-se a poucas características, de forma que elas sejam marcantes. Coisas simples como “velho de barbas brancas”, “óculos redondos e cicatriz em forma de raio” ou “baixinho e com os pés peludos” tornam-se verdadeiros ícones culturais.


Hábitos e manias

Você rói as unhas? Estala os dedos? Talvez goste de cantarolar enquanto toma café da manhã, ou passe talco no corpo antes de ir dormir. Meu ponto é: você não é um robô; não realiza apenas tarefas objetivas, com alguma intenção objetiva por trás. Por que então seu personagem deveria?

A esta altura, você já deve estar pegando as manhas do negócio. Sim, você vai voltar mais uma vez ao conceito. Eu não o chamei de pedra fundamental à toa. E mãos à obra. Hábitos, manias, gestos característicos, vícios de linguagem; tudo isso é essencial para um personagem completo e convincente. E não se esqueça de executar tudo isso na hora da interpretação.


Passado

Agora sim você irá escrever o background. O ponto de partida é a motivação: Como ela surgiu? Que problema deu origem à necessidade de se aventurar? A partir daí, costure todos os elementos já estabelecidos: aparência, hábitos, manias.

A dica aqui é a relação do seu personagem com seus pais, sejam eles presentes ou ausentes. E, novamente, ser econômico: o background serve para apresentar o personagem, enquanto as verdadeiras aventuras acontecerão na mesa de jogo.


Futuro

Um personagem que evolui, muda com o tempo e aprende com os desafios enfrentados é muito mais interessante que um boneco de cera imutável. E não estou falando apenas da evolução em termos de jogo, do acúmulo de níveis e pontos de experiência. Estou falando da evolução enquanto pessoa.

Volte ao problema que deu origem à motivação do personagem. Agora tenha em mente que essa inquietação deve ser superada ao longo das aventuras, ou estas terão sido em vão. Elabore uma curva de crescimento pretendida para o personagem; esse crescimento costuma ser psicológico, emocional ou espiritual, dependendo do tipo de história.

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Essas são as orientações básicas que você precisa para elaborar um personagem mais profundo, convincente e, principalmente, muito mais legal que um amontoado de números em uma planilha. Mas o trabalho de verdade depende da sua criatividade; sinta-se livre para ignorar qualquer das minhas sugestões, se lhe parecer mais correto (não mais conveniente).

E faça todo esse processo junto ao Mestre do seu grupo. Você pode achar que seu personagem é algo pessoal, mas um Mestre habilidoso vai saber te orientar de forma a criar um entrosamento narrativo entre os personagens e dar um sentido maior à trama da Campanha.

Bem, você não vai aprender mais nada lendo esse texto. Agora é hora de pegar papel e caneta (abrir o Word também serve) e começar a criar. Boa sorte.

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Nota: Os leitores mais atentos talvez tenham percebido que eu escrevo o personagem, ao invés do “correto” a personagem. Pois é, eu sei que, de acordo com a norma padrão, a palavra personagem é feminina e não flexiona em gênero. Mas eu discordo. Acredito que a flexão é mais coerente e ajuda no entendimento de certas situações. Portanto estou exercendo meu direito de ignorar esta regra gramatical. Grammar nazis, contenham-se.

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